7.7.07

A Travessia!...



  Atravesso devagar a ponte levando o meu próprio camelo não acreditando muito no aluguer de camelos anunciado na placa (ver tema anterior), pois vindo de quem vem a afirmação de que a margem sul é um deserto, tudo podia acontecer, já que dá o dito por não dito e a gente nunca sabe se o deserto de um momento para o outro deixa de o ser.



  Como disse, eu, homem precavido, levava o meu próprio camelo.

  Atravessada a ponte eis o deserto. Já há vários anos que faço esta travessia para a outra margem e nunca me tinha apercebido que a partir da ponte tudo o que via era o Sahara em ponto pequeno.

  Quer queiramos quer não o homem tem razão.

  Aqui e ali, viam-se pequenos oásis onde uns animais esquisitos, com cornos, pastavam na areia seca. Procurei ver se eram camelos mas ao longe não me pareciam já que os camelos não têm cornos... que se saiba!

  No alto das dunas, despontavam algo parecido com casas, mas bem sabemos o quanto o deserto é traiçoeiro dando-nos imagens inexistentes. Embora hidratado, nunca se sabe as loucuras que o deserto nos reserva, como vendo odaliscas com a sua dança do ventre, caso o desejo sexual seja já uma miragem, ou vendo miragens na própria areia.



  Avanço com o meu camelo naquela inóspita paisagem seca, com bátegas de chuva caindo incessantemente. Já em desespero, vejo ao longe uma placa com a letra M. Pensei que, atravessado o deserto, me encontraria em Marraquexe, mas ó que desilusão, afinal o M era de Mértola, já não podia ler o poema berbere:

Que não caminhes, não sintas, não te percas
Em Marraquexe – a mais bela cidade do Sul


 Desiludido, encostei o meu camelo num oásis, sem jacarandás, roseiras e buganvílias e bebi um café. À minha volta, tuaregues, à falta de um narguilé (cachimbo de água árabe), fumavam cigarros encostados às palmeiras, ou era da minha vista ou a marca dos cigarros era “Camel”.

  O deserto ainda não tinha terminado, uma aragem com cheiro a bosta de camelo chegava-me às narinas vinda do rio Arade.

  Tamanha travessia no deserto, com as fortes e constantes tempestades de areia em estradas asfaltadas, tinham esgotado os recursos hídricos do meu camelo e, assim, quase desfalecido, num poço gasolineiro dei de beber ao bicho sedento.

  Acampei, não entre dunas, mas num «bungalow» com piscina, um luxo no deserto.

  Retiro o chech, as vestes que me envolvem o corpo cheio de areia e tomo um duche.

  A água continuava a cair dos céus (o céu árabe tem sete céus), já não há desertos como dantes.

  No dia seguinte levanto-me bem fresco pela manhã. Vejo se o camelo está em condições e vou pela estrada 125 olhando a paisagem. De repente, o meu camelo parte à desfilada ao encontro de uma cáfila, onde, o líder do grupo, me pareceu ter parecenças assombrosas com o fulano que alugava camelos à saída da ponte.

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