28.8.05

Eu... Presidente!





  É verdade, ser presidente de qualquer coisa neste país é o que está a dar. Assim, de palanque em palanque, com música à mistura, poderei gritar bem alto que se o país continuar entregue aos maçónicos darei, como D. Pedro, o meu grito não do Ipiranga que isso é bem longe mas um gritinho, tipo bailinho, e decretar a independência da ilha, da minha ilha pois quem é soba em terra de cegos é rei. O que é que eu sou?!… o que é que eu sou?!…. Dirá o povoléu: - És rei, és rei,... e eu colocando as mãos na minha saliente barriga, que o resto nem sei se existe já que os espelhos lá de casa são tipo meio-corpo, mandarei vir coches de Lisboa e far-me-ei não rei mas sim Imperador, tipo Bokassa, esse canibal do Império Centro-Africano.

  Ou talvez não, ser presidente de uma ilha não é lá grande ideia. Se um dia a ilha se afunda lá se vai o meu Império pela retrete da Terra abaixo. Que tal ser presidente de várias coisas ao mesmo tempo? Hum!... Boa nota. Presidente do Metro, da Câmara do meu burgo, da Liga de futebol e representante de um país africano para ficar livre de ser revistado no aeroporto pois ser presidente e pertencer ao Corpo Diplomático é só vantagens.
Já há muito se diz: «Com CD quem ganha é você»

  Estou é a sonhar alto de mais. Vou é ser presidente do C.F.C.. É que se for apanhado a mais de 200 kms/hora direi que tenho uma reunião de urgência e, embora esteja só a 28 kms do local e faltarem 3 horas para o inicio direi que, como presidente, terei que dar o exemplo e chegar mais cedo para fazer o aquecimento. Presidente que se preze tem que ser o primeiro.

  Mas ser presidente disto irrita-me. Quando passo por uma adega e me perguntam: «Branco ou tinto», tenho sempre que responder: – Cheio!... Olhe, misture lá dos dois que eu cá não sou esquisito, é que ser presidente dos Copofónicos Futebol Club não pode estar com essas mariquices.

  Ah?!... Dirão vocês, o que é que o futebol tem a haver com os Copofónicos?!... É simples, meus caros, é que se um dia tiver um processo à perna é certo e sabido que será como o do “Apito Dourado”, faz que anda… mas não anda neste país de brandos costumes.

... Se não for presidente agora, até aos 80 anos ainda vou a tempo!


  Tenho dito!...

28-08-2005

10.8.05

Trapaceiro...





 Bin Laden ataca em Portugal. Só pode ser. Não é que enquanto o 1º, com as mãos na alavanca do detonador, dava gargalhadinhas de prazer – terá aprendido com alguma hiena no Seringueti?! – já uma das torres em Tróia estava a cair?

 Como não acredito que a alavanca seja tipo rapidinha «É tão bom não foi?», só pode ter sido o trapaceiro do Bin, tal a experiência que ele tem em matéria de demolições.

 Isso não se faz. E agora? Com que cara irá o 1º dizer aos “boys”, a sensação que teve ao carregar no manípulo e ver jorrar aquela poeirada toda como se duma ejaculação das próprias entranhas se tratasse?

 Para a próxima, acho bem que o 1º certifique se o detonador é aquele mesmo e siga os fios até ao centro da implosão. O mal, é se alguém não repara e carrega no manípulo verdadeiro!...



10-09-2005

2.8.05

Um Sonho Lindo!...





  Vou para o Quénia. Qual ilha qual carapuça, eu quero e vou para o Seringueti. Até porque uma ilha não nos dá as emoções que uma reserva nos oferece, a não ser que se afunde como Atlântida, mas isso não sabemos quando acontece e bem podemos esperar sentados para sentir a adrenalina subir ao ver uma ilha a afundar. Está decidido, vou fazer um safari no Quénia.

  Que emoção sentir os balanços do jeep e o rabiosque aos pulinhos por aqueles terrenos selvagens. O vidro da frente descido, sentir as lufadas de ar quente no rosto transportando cheiros de bosta de elefante, o bafio daquelas bocas enormes dos hipopótamos, os embates dos mosquitos nos óculos Ray-ban, que maravilha.

  Que importa a mim os incêndios, a seca, a água que se desbarata no regadio de jardins e muitas vezes da estrada. Estou a ver-me ali, a admirar os animais selvagens pela primeira vez, sim que os únicos que até agora tinha visto foi no jardim zoológico ou no Badoka. Não há vida como esta, foi bom ter aqui chegado senão via o Quénia por um canudo.

  Ui, que felicidade pegar na arma e dar um tirinho naquela gazela doente. Faz-me sentir um Commodus, esse imperador que se auto denominava de Hércules Romanus e ia à arena do Coliseu e matava animais e gladiadores feridos. Como filósofo que sou tive este pensamento: «Aos feridos e moribundos trato eu da saúde», profundo não é?

  Que volúpia, que sensação, que prazer, que orgasmo ver aquele leão em cima da leoa agachada, morder-lhe o pescoço, arreganhar os dentes e eriçar os bigodes. Não é só o Gomes que pode dizer que marcar um golo é o mesmo que ter um orgasmo eu também os tenho e não marco golos há muito tempo. Por falar nisso, lembrei-me agora do Rei D. Dinis quando dizia: «Ai flores, ai flores do verde ramo, se sabedes novas do meu amado! Ai Deus, e u é?». Vou perguntar ao correio-mor cá do sítio se chegou carta para mim.

  Estou farto de um país que se diz de tanga. Tanga têm os dançarinos que à noite vêm bailar para mim ao som do batuque. Eles e elas em rodopio frenético com a tanga a dar a dar, ai que anseio ver se por debaixo daquela tanga têm o mesmo que os escoceses com os kilts.

  Mas que som é este que me afecta os sentidos e me desperta para a realidade? O despertador, maldito despertador, agora que estava no melhor da cena vem este maldito dizer-me: «Marius, levanta-te, está na hora de ires trabalhar».

 Que sonho lindo estava a ter, sonhava ser primeiro-ministro de um país de cegos.


02-08-2005

24.4.05

E Hoje?... Que Abril?!...

O Exílio!...

 Isolamento político... Trova do Vento que Passa

A Alvorada!...

 Primeira senha... E Depois do Adeus.

 Segunda senha... Grândola Vila Morena

A Ascensão!...

 Marcha associada ao MFA... A life on the ocean waves.

 Movimento popular... Organização Popular.

 Movimentos populares de base... Viva o Poder Popular

O declínio!...

 Fuga de ex-PIDE/DGS... Fado de Alcoentre

 Fim do período revolucionário... Eu Vim de Longe

25 de Abril de 1974

  Trinta e um anos são passados sobre a revolução de Abril.
Era o tempo das calças à “boca-de-sino”, dos socos, botas de saltos muito altos e grossos. Dos cigarros “Provisórios” e “Definitivos”, dos penicos em metal, louça ou plástico, dos gira-discos onde rodavam os “LP’s” e os “singles” de vinil. Do “Mundo de Aventuras”, do “Condor”, “Cavaleiro Andante” e de tantos outros livros de banda desenhada que acompanharam a nossa meninice. Dos sinaleiros e dos tostões já em decadência.

  Hoje já nada é como era. Assim, como o tempo fez desaparecer tudo isto também fará por fazer desaparecer a essência da revolução do 25 de Abril. Será mais um feriado como tantos outros que fazem parte da nossa história.

  Desaparecidas as gerações de 40, 50 e da 1ª metade dos anos 60 nada restará. Os nossos filhos, os nossos netos, terão conhecimento desta revolução através dos livros de escola. Os “chaimites” de Jaime Neves e do grande capitão de Abril que foi Salgueiro Maia, irão fazer parte daquelas histórias que estudámos desde D. Afonso Henriques. Restará, depois, pouco na memória de cada um consoante a cultura que lhes ficar depois de se esquecerem de tudo o que aprenderam. Mas, enquanto existir um daqueles das gerações que referi, a revolução será sempre contada ao vivo e a cores. Marius70 irá, enquanto a memória o permitir, recordar aquele dia em que de braço dado com Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Padre Fanhais, José Mário Branco, Fausto, cantou, fardado,... Grândola, Vila Morena!

Aos políticos deste país. Estão a tentar adormecer a Revolução dos cravos mas, cuidado, deixam-na adormecer devagarinho, não façam barulho, pois pode um dia, de novo, o povo acordar e, Abril volte... a ser Abril!

Abril de Abril

Era um Abril de amigo Abril de trigo
Abril de trevo e trégua e vinho e húmus
Abril de novos ritmos novos rumos.

Era um Abril comigo Abril contigo
ainda só ardor e sem ardil
Abril sem adjectivo Abril de Abril.

Era um Abril na praça Abril de massas
era um Abril na rua Abril a rodos
Abril de sol que nasce para todos.

Abril de vinho e sonho em nossas taças
era um Abril de clava Abril em acto
em mil novecentos e setenta e quatro.

Era um Abril viril Abril tão bravo
Abril de boca a abrir-se Abril palavra
esse Abril em que Abril se libertava.

Era um Abril de clava Abril de cravo
Abril de mão na mão e sem fantasmas
esse Abril em que Abril floriu nas armas.



Manuel Alegre
30 Anos de Poesia

24-04-2005